Trabalho de história pertencente ao terceiro ano, turma "A", do colégio Leonardo da Vinci da unidade norte. Aqui nesta página estão reunidas as reportagens de um jornalista anônimo e adepto aos ideais dos revoltosos da guerra de Contestados (1912 a 1916). Este blog é em memória desse homem muito à frente de seu tempo.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O meu último relato


            Em meu último relato o massacre que o governo chegou a cometer sobre a populacao de Contestado foi uma breve narrativa de algo muito maior que estava por vir.
            Após a morte de José Maria, os seus seguidores, que venceram em Irani, e também alguns fazendeiros, passaram a obedecer aos comandos de um novo chefe, de nome Eusébio Ferreira dos Santos, cuja a filha Maria Rosa, tinha visões.
            Com isso o governo brasileiro, decidiu reprimir o movimento e exterminar esse novo grupo temendo que ele crescesse e se tornasse muito perigoso. Por isso eles criaram e mandaram a Força Pública Catarinens, que para lá se dirigiu com 200 soldados. Contudo, não obtiveram nenhum sucesso, pois a coragem dos fiéis, que compunham esse novo grupo, em seguir os comandos do monge, foram maiores. E essa vitoria foi fundamental para alcançarmos a credibilidade necessária para o movimento e fortalecermos ainda mais as nossas bases formando redutos em locais afastados e de difícil acesso.
            Apesar da nossa vitoria, em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, é enviado a Taquaruçu um efetivo de 700 soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Porém, os caboclos e fiéis da causa Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil acesso e onde já viviam cerca de 2000 pessoas, chefiados antigamente por Maria Rosa, uma jovem de 15 anos de idade. Ela combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil que carregava. Ela afirmava receber, espiritualmente, ordens do beato, por isso ela assumiu a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos, que compunham cerca de 6000 homens.
            De março até maio outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de Março de 1914, embaladas pela vitória de Taquaruçú, que tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, mas aí o desastre é total. Fogem em pânico perseguidos pelos revoltosos. Esta nova vitória enche os contestadores de ânimo. O fato repercute em todo o interior, trazendo para o reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas também repercute muito mal frente ao governo e aos órgãos legalmente constituídos.
            Como cada vez mais pessoas engajaram-se abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos fiéis para o arrebanhamento de animais da região a fim de suprir as necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São então fundados os redutos de Bom Sossego e de São Sebastião. Só neste último se aglomeravam cerca de 2000 pessoas.
            Devido a tantas pessoas entrarem no movimento o governo manda o general Carlos Frederico de Mesquita, veterano em Canudos, segundo soube, para comandar uma ação contra os habitantes do movimento em prol de Contestado. Pegos de surpresa eles fogem, mas depois se reagrupam na localidade de Santa Maria onde passam a combater ainda mais o governo.
            Como última cartada o governo nomeia o general Setembrino de Carvalho para o comando das operações contra os Contestadores. Na sequência dos dias, Setembrino adota uma nova postura de guerra, evita o combate direto, que era o que os caboclos esperavam. Com esta nova estratégia, não demora muito e começa a faltar comida nos acampamentos para os seguidores do Contestado. E isto teve como conseqüência imediata a rendição de dezenas de caboclos, mas é bom ressaltar que a maioria dos que se entregaram eram velhos, mulheres e crianças, talvez uma contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida aos combatentes que ficaram para trás e que ainda defenderiam as nobres causas.
            Neste ponto da guerra do Contestado, começa a se destacar a figura de um homem chamado Deodato Manuel Ramos, vulgo "Adeodato".  Só que aí, à medida que ia faltando o alimento, Adeodato passa a revelar-se cada vez mais autoritário, não aceitando a rendição. Aos que queriam se entregar, ele aplicava sem dó a pena de morte.
            Após nos cercarem, em 8 de fevereiro de 1915, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chegam tropas inimigas a Santa Maria. De um lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, os caboclos também armados, é verdade, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. Depois de vários confrontos, num deles Maria Rosa, a líder espiritual dos seguidores, morre às margens do rio Caçador. Em 3 de Abril as tropas de Estillac e Potyguara avançam juntas e ordenadas para o assalto final a Santa Maria, onde restavam apenas alguns combatentes já quase mortos pela fome.
            Em dezembro de 1915, o último dos redutos dos seguidores foi devastado pelas tropas de Setembrino. E Adeodato foge, vagando com tropas no seu encalço. Consegue, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como foragido, ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região, mas a fome e o cansaço, além de uma perseguição sem trégua, fizeram com que ele se rendesse. É com tristeza e muito pesar que  escrevo o desfecho dessa guerra: a prisão de Adeodato em agosto de 1916 e o fracasso de tudo o que construímos.
            Foi frustrante ver tudo desmoronar. As nossas reivindicações revelaram-se tão frágeis como uma folha de papel. Contudo, nossas aspirações e sonhos não morreram. Nada disso que fizemos foi em vão. Eu deixo os meus escritos para as gerações futuras, para que nunca se esqueçam que devem lutar pelo que acreditam.
           

            Fontes: http://www.infoescola.com/historia/guerra-do-contestado/

http://contestadoaguerradesconhecida.blogspot.com/

http://pt.scribd.com/doc/5560397/Revoltas-durante-a-Republica-oligarquica



quarta-feira, 4 de maio de 2011

Hoje não posso ser objetivo

Há uma semana, mais ou menos, já que a tristeza me fez perder a noção do tempo, o governo federal reprimiu os sertanejos violentamente. Aliás, reprimiu a mim também, afinal eu estava no meio do conflito. Além do mais, já faz algum tempo que me sinto parte desse povo tão dotado de coragem e admiração.
            O governo não teve piedade alguma quando olhou para a minha expressão indignada e o rosto faminto dos sertanejos inocentes. Ele passou dos limites. Todos nós pensamos que tudo estava sob controle quando nos defendemos em certas ocasiões, mas essa última batalha, chamada por todos de batalha de Irani, levou muitas vidas, retirou muitas de nossas esperanças, sem falar que levou o nosso digníssimo líder! José Maria foi assassinado covardemente e eu ainda o sinto agonizando em meus braços. Hoje, lamentavelmente, eu não posso ser objetivo. As emoções foram muito intensas de um modo que eu jamais poderia imaginar.
            Caso a perda do nosso líder não tivesse afetado tanto os nossos espíritos, estaríamos mais animados, pois conseguimos eliminar o líder das tropas inimigas. O nome dele é, ou melhor, era João Gualberto. Um coronel, aparentemente. Contudo, o que adianta a morte deste homem? Outro surgirá em seu lugar e continuará com a operação limpeza do governo.
            Eu sempre soube que o governo oprimia as classes pobres em detrimento das grandes empresas e dos ricos proprietários rurais, mas jamais imaginei que a situação fosse chegar tão longe assim. Sinto-me esgotado e triste. Sem José Maria não sei como seus seguidores seguirão em frente. Eu também já não sei mais o que fazer da minha vida. Sinto-me perdido.
            Os Peludos, é assim que são apelidados os soltados inimigos, também perderam demasiados companheiros. Nós, chamados por eles de pelados, ficamos satisfeitos ao menos com isso, contudo eu duvido que isso seja o suficiente.
            Há alguns dias todos os seguidores de José Maria sentaram-se em busca de idéias para o futuro incerto. A guerra continuará e seremos ainda mais violentos em honra a José Maria. Aliás, outro líder entrará no lugar dele. É quase certo que será um tal de Adeodato.
            Após o afogamento forçado de José Maria em um mar de sangue, os sertanejos crêem veementemente que ele voltará novamente. A fé deles é impressionante.
            É com pesar que informo as notícias tristes e é com desanimo que me refiro as boas. Eu sinto que o conflito em questão está apenas começando e que o desfecho dele não resultará exatamente num final feliz para o nosso lado.
            Por outro lado, ideais são ideais, assim como princípios são princípios. Eu não fugirei dessa luta, não fugirei da companhia desses sertanejos. Eles estão certos e, mesmo que a justiça não prevaleça, farei de tudo para que nossos feitos heróicos jamais sejam esquecidos.
            Viva a revolução!



sábado, 30 de abril de 2011

O contestado mestre

Miguel Lucena, mais conhecido como José Maria, é o líder messiânico da revolução que está acontecendo na região conhecida como Contestado. Esse beato, um homem digníssimo, sempre acompanhou as dificuldades enfrentadas pelos caboclos revoltosos e agora os está guiando para os caminhos da verdade espiritual.

1)            Senhor José Maria, as histórias que as pessoas contam sobre seus feitos milagrosos são realmente surpreendente. Diga-me, elas são de fato verdadeiras?
            Sim, são verdadeiras. Eu sou um enviado de Deus, nosso pai. Ele espera que eu cumpra esse tipo de missão e eu, como seu humilde servo, estou fazendo o melhor que posso. Certa vez, ajudei na recuperação da esposa do coronel Francisco de Almeida, ela era vítima de uma doença incurável.

2)            Já que você tocou no nome do coronel Francisco de Almeida, é verdade que ele lhe ofereceu uma grande quantia de ouro e também terras por esse seu feito milagroso?
            Sim é verdade, mas eu recusei todo o oferecimento. Não procuro uma vida de luxo, mas sim uma vida de paz, humildade e trabalho honesto.

3)            José Maria, por que exatamente você está aqui na região de Contestado?
            Seria contra a determinação divina mentir para você, por isso, eis a verdade: eu cometi erros no passado. Porém, eu a vi a luz e o propósito que Deus tinha para mim subitamente se revelou. Eu deveria viver para pregar às pessoas a criação e um mundo novo, mais justo e igualitário. Por isso eu vim aqui, para espalhar a verdade e, é claro, ajudar aqueles que clamam desesperadamente por auxílio.

4)            Você sabe ler e escrever. Vive anotando em seus cadernos as propriedades medicinais das plantas. Por que tanta pesquisa?
            Eu vivo para servir, então as minhas pesquisas visam só ajudar a população local, por isso conto com a ajuda do coronel Francisco de Almeida para criar a farmácia do povo.

5)      Você é muito querido e admirado pelos seus seguidores. O que você acha disso?
            Eu agradeço todos os dias pela confiança que meu seguidores depositam sobre mim. É bom saber que as minhas pregações de um mundo novo, que venha a ser regido por Deus e onde todos possam conviver em paz, com prosperidade, justiça e terras para poderem trabalhar, são bem aceitas entre eles.

6) Fiquei sabendo que recentemente estourou uma revolta entre o seu povo, guiado por você, e o governo. O que tem a declarar sobre esse fato?
            Infelizmente isso acabou acontecendo, era inevitável. Particularmente, preferia a paz, pois Deus jamais busca a guerra. Contudo o governo, com sua injustiça, forçou demais e a situação acabou chegando a esse ponto.Seria errado eu e meu povo continuarmos parados, esperando, de modo suicida, as tropas do governo chegarem e acabarem conosco.

7) Por que você acha que o governo está contra a revolta que você está criando?
            Eu não criei a revolta, foram as circunstâncias. Eu creio que eles não perceberam o real motivo dessa rebelião, nós só queremos nossos direitos, nossa terra para termos onde morar. Bom, e existem boatos de que eu seja socialista. Eu nem sei o que é isso!

8) Última pergunta. O que você diria para aqueles que são contra você e o seu povo?
            Eu diria, humildemente, que eles devem parar de olhar apenas para si próprios e deviam prestar atenção, ao menos de vez em quando, nas nossas dificuldades: a miséria e fome.

            Agradeço pela atenção, senhor José Maria. Leitor, espero que tenha ficado esclarecido quem este homem inspirador é de verdade.
           
            Fontes:

terça-feira, 26 de abril de 2011

O inicio de uma revolta


As regiões mais pobres do Brasil têm terreno fértil para o aparecimento de lideranças religiosas de caráter messiânico. José Maria esta ganhando força popular graças a essa sua característica messiânica, afinal ele prega a criação de um mundo novo, regido pelas leis de Deus, onde todos viveriam em paz, com prosperidade, justiça e terras para trabalhar.
Com esses rumores sobre José Maria, os coronéis da região e os governos (federal e estadual) começam a ficar preocupados com a liderança desse beato e sua capacidade de atrair os camponeses. O governo o acusa de ser um inimigo da República, que tem como objetivo desestruturar o governo e a ordem da região. Com isso, policiais e soldados do exército devem ser enviados para o local, com o objetivo de desarticular o movimento.
    Essa ação do governo esta sendo mais um motivo para a revolução, pois a população já estava revoltada com ações anteriores, devido à falta de apoio do governo e da empresa estadunidense. Uma revolução pelos interesses da população em ter suas terras e empregos de volta, afinal tudo isso pertencia a eles antes. Contudo, hoje o governo, com suas atitudes fúteis e orgulhosas, rouba de inocentes.

Fontes de pesquisa:

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O progresso da desumanidade


 A construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande tinha como objetivo integrar econômica e geograficamente a região sul. Contudo, sua existência foi às custas da expulsão de milhares de moradores locais, que estão tentando fugir de seus infortúnios seguindo as palavras do beato José Maria.


            A estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul está enfim possibilitando o tráfego de trens entre os quatro estados do sul no atual ano de 1912. A multinacional Brazil Railway, pertencente ao Sindicato Farquhar, que se encarregou dessa construção.
            Contestado costumava ser uma região disputada por dois estados da região sul do Brasil: Santa Catarina e Paraná. Ambos estavam interessados nessa área de quarenta mil quilômetros quadrados por conta da grande floresta cheia de madeiras nobres e imensos ervais nativos que poderiam trazer um bom lucro se fossem explorados. Porém, o governo brasileiro acabou com essa rivalidade no inicio da república, quando doou parte dessas terras da discórdia para uma empresa estadunidense denominada Brazil Railway. A região já tinha um destino quando passou para as mãos da atual dona: tornar-se o cenário de uma nova ferrovia e o palco de intensas explorações das madeiras nobres, juntamente com tudo o mais que a localidade tiver de valioso a oferecer.
            A presença da nova estrada de ferro e dos seus construtores estrangeiros, apesar do seu aspecto positivo, impulsionar o progresso do atrasado Brasil; é uma faca de dois gumes, afinal ela trouxe também consequências negativas. A primeira delas foi a expulsão desumana da população de Contestado, que não teve direito sequer a indenização e ainda perdeu seu único meio de subsistência: a pequena agricultura. Já a segunda está ocorrendo agora: a exploração das riquezas naturais da região.
            Os ex-moradores de Contestado, abandonados à mercê da miséria absoluta, viram-se obrigados a trabalhar como mão de obra na construção da estrada de ferro. A parte desses tipos socias que conseguiu garantir sua subsistência através desse emprego, o perdeu com a finalização da obra. A situação de pobreza dessas pessoas já tinha se agravado com a construção dessa estrada de ferro, mas agora que os únicos empregos disponíveis se foram tudo piorou. Esse ano para esses desventurados não será de vacas magras, mas sim de vacas com sérios problemas de inanição.
            Algumas das pessoas que foram expulsas de seus territórios andam, atualmente, seguindo um beato que se auto-intitula José Maria, cujo nome verdadeiro é Miguel Lucena. Aparentemente, elas encontram algum consolo nas ideias igualitárias e religiosas desse homem. “O mundo deveria ser regido pelas leis de Deus. Todos nós teríamos justiça se fosse assim. Temos que lutar por terras, pra trabalhar de novo, e igualdade. Só desse modo tudo se ajeita.” Discursou José Maria para uma pequena multidão há pouco mais de uma semana.
            Os rumores que circulam em Contestado é de que o número de seguidores de José Maria aumentou e que muito em breve acontecerá mais uma revolução no território brasileiro.  
           
            Fontes de pesquisa: