Trabalho de história pertencente ao terceiro ano, turma "A", do colégio Leonardo da Vinci da unidade norte. Aqui nesta página estão reunidas as reportagens de um jornalista anônimo e adepto aos ideais dos revoltosos da guerra de Contestados (1912 a 1916). Este blog é em memória desse homem muito à frente de seu tempo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Hoje não posso ser objetivo

Há uma semana, mais ou menos, já que a tristeza me fez perder a noção do tempo, o governo federal reprimiu os sertanejos violentamente. Aliás, reprimiu a mim também, afinal eu estava no meio do conflito. Além do mais, já faz algum tempo que me sinto parte desse povo tão dotado de coragem e admiração.
            O governo não teve piedade alguma quando olhou para a minha expressão indignada e o rosto faminto dos sertanejos inocentes. Ele passou dos limites. Todos nós pensamos que tudo estava sob controle quando nos defendemos em certas ocasiões, mas essa última batalha, chamada por todos de batalha de Irani, levou muitas vidas, retirou muitas de nossas esperanças, sem falar que levou o nosso digníssimo líder! José Maria foi assassinado covardemente e eu ainda o sinto agonizando em meus braços. Hoje, lamentavelmente, eu não posso ser objetivo. As emoções foram muito intensas de um modo que eu jamais poderia imaginar.
            Caso a perda do nosso líder não tivesse afetado tanto os nossos espíritos, estaríamos mais animados, pois conseguimos eliminar o líder das tropas inimigas. O nome dele é, ou melhor, era João Gualberto. Um coronel, aparentemente. Contudo, o que adianta a morte deste homem? Outro surgirá em seu lugar e continuará com a operação limpeza do governo.
            Eu sempre soube que o governo oprimia as classes pobres em detrimento das grandes empresas e dos ricos proprietários rurais, mas jamais imaginei que a situação fosse chegar tão longe assim. Sinto-me esgotado e triste. Sem José Maria não sei como seus seguidores seguirão em frente. Eu também já não sei mais o que fazer da minha vida. Sinto-me perdido.
            Os Peludos, é assim que são apelidados os soltados inimigos, também perderam demasiados companheiros. Nós, chamados por eles de pelados, ficamos satisfeitos ao menos com isso, contudo eu duvido que isso seja o suficiente.
            Há alguns dias todos os seguidores de José Maria sentaram-se em busca de idéias para o futuro incerto. A guerra continuará e seremos ainda mais violentos em honra a José Maria. Aliás, outro líder entrará no lugar dele. É quase certo que será um tal de Adeodato.
            Após o afogamento forçado de José Maria em um mar de sangue, os sertanejos crêem veementemente que ele voltará novamente. A fé deles é impressionante.
            É com pesar que informo as notícias tristes e é com desanimo que me refiro as boas. Eu sinto que o conflito em questão está apenas começando e que o desfecho dele não resultará exatamente num final feliz para o nosso lado.
            Por outro lado, ideais são ideais, assim como princípios são princípios. Eu não fugirei dessa luta, não fugirei da companhia desses sertanejos. Eles estão certos e, mesmo que a justiça não prevaleça, farei de tudo para que nossos feitos heróicos jamais sejam esquecidos.
            Viva a revolução!



2 comentários:

  1. Agradeço sua atenção, jovem jornalista, e espero que continue com o belíssimo trabalho que vem fazendo.
    Infelizmente não estarei com vocês de agora em diante, mas para os que continuam acreditando em mim, peço que mantenham a fé, pois assim no momento de sua morte, estarei de braços aberto para vos acolher!
    Repito, peço que mantenham a fé no movimento e em mim, e em vossas mortes, estarei pronto para os acolher.
    Em especial, para acolher o senhor, jovem jornalista, que se mostrou bastante simpático e participativo em nossa revolta.

    Agradeço a fé e o apoio de todos.

    José Maria

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  2. Ficamos gratos com sua preocupação. Estaremos sempre ao lado de Zé Maria e seguiremos com nossos ideais. Não abriremos mão de nossos direitos, nossas terras, nossas vidas. Viva Contestado, Viva José Maria.

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