Em meu último relato o massacre que o governo chegou a cometer sobre a populacao de Contestado foi uma breve narrativa de algo muito maior que estava por vir.
Após a morte de José Maria, os seus seguidores, que venceram em Irani, e também alguns fazendeiros, passaram a obedecer aos comandos de um novo chefe, de nome Eusébio Ferreira dos Santos, cuja a filha Maria Rosa, tinha visões.
Com isso o governo brasileiro, decidiu reprimir o movimento e exterminar esse novo grupo temendo que ele crescesse e se tornasse muito perigoso. Por isso eles criaram e mandaram a Força Pública Catarinens, que para lá se dirigiu com 200 soldados. Contudo, não obtiveram nenhum sucesso, pois a coragem dos fiéis, que compunham esse novo grupo, em seguir os comandos do monge, foram maiores. E essa vitoria foi fundamental para alcançarmos a credibilidade necessária para o movimento e fortalecermos ainda mais as nossas bases formando redutos em locais afastados e de difícil acesso.
Apesar da nossa vitoria, em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, é enviado a Taquaruçu um efetivo de 700 soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Porém, os caboclos e fiéis da causa Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil acesso e onde já viviam cerca de 2000 pessoas, chefiados antigamente por Maria Rosa, uma jovem de 15 anos de idade. Ela combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil que carregava. Ela afirmava receber, espiritualmente, ordens do beato, por isso ela assumiu a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos, que compunham cerca de 6000 homens.
De março até maio outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de Março de 1914, embaladas pela vitória de Taquaruçú, que tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, mas aí o desastre é total. Fogem em pânico perseguidos pelos revoltosos. Esta nova vitória enche os contestadores de ânimo. O fato repercute em todo o interior, trazendo para o reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas também repercute muito mal frente ao governo e aos órgãos legalmente constituídos.
Como cada vez mais pessoas engajaram-se abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos fiéis para o arrebanhamento de animais da região a fim de suprir as necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São então fundados os redutos de Bom Sossego e de São Sebastião. Só neste último se aglomeravam cerca de 2000 pessoas.
Devido a tantas pessoas entrarem no movimento o governo manda o general Carlos Frederico de Mesquita, veterano em Canudos, segundo soube, para comandar uma ação contra os habitantes do movimento em prol de Contestado. Pegos de surpresa eles fogem, mas depois se reagrupam na localidade de Santa Maria onde passam a combater ainda mais o governo.
Como última cartada o governo nomeia o general Setembrino de Carvalho para o comando das operações contra os Contestadores. Na sequência dos dias, Setembrino adota uma nova postura de guerra, evita o combate direto, que era o que os caboclos esperavam. Com esta nova estratégia, não demora muito e começa a faltar comida nos acampamentos para os seguidores do Contestado. E isto teve como conseqüência imediata a rendição de dezenas de caboclos, mas é bom ressaltar que a maioria dos que se entregaram eram velhos, mulheres e crianças, talvez uma contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida aos combatentes que ficaram para trás e que ainda defenderiam as nobres causas.
Neste ponto da guerra do Contestado, começa a se destacar a figura de um homem chamado Deodato Manuel Ramos, vulgo "Adeodato". Só que aí, à medida que ia faltando o alimento, Adeodato passa a revelar-se cada vez mais autoritário, não aceitando a rendição. Aos que queriam se entregar, ele aplicava sem dó a pena de morte.
Após nos cercarem, em 8 de fevereiro de 1915, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chegam tropas inimigas a Santa Maria. De um lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, os caboclos também armados, é verdade, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. Depois de vários confrontos, num deles Maria Rosa, a líder espiritual dos seguidores, morre às margens do rio Caçador. Em 3 de Abril as tropas de Estillac e Potyguara avançam juntas e ordenadas para o assalto final a Santa Maria, onde restavam apenas alguns combatentes já quase mortos pela fome.
Em dezembro de 1915, o último dos redutos dos seguidores foi devastado pelas tropas de Setembrino. E Adeodato foge, vagando com tropas no seu encalço. Consegue, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como foragido, ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região, mas a fome e o cansaço, além de uma perseguição sem trégua, fizeram com que ele se rendesse. É com tristeza e muito pesar que escrevo o desfecho dessa guerra: a prisão de Adeodato em agosto de 1916 e o fracasso de tudo o que construímos.
Foi frustrante ver tudo desmoronar. As nossas reivindicações revelaram-se tão frágeis como uma folha de papel. Contudo, nossas aspirações e sonhos não morreram. Nada disso que fizemos foi em vão. Eu deixo os meus escritos para as gerações futuras, para que nunca se esqueçam que devem lutar pelo que acreditam.
Fontes: http://www.infoescola.com/historia/guerra-do-contestado/
http://contestadoaguerradesconhecida.blogspot.com/
http://pt.scribd.com/doc/5560397/Revoltas-durante-a-Republica-oligarquica
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